sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Sobre o filme Habana Blues

Ontem assisti um filme sobre Cuba, Habana Blues...
Legalzinho, um cara gato, música cubana, tal...
Mas eu tenho uma grande birra de qualquer filme que coloque a questão da vontade de sair de Cuba sem problematizá-la da forma devida...
Pois bem, aqueles jovens sonham em ser músicos lá fora, sonham em ganhar dinheiro e ter mais de um par de sapatos, comer carnes e doces todos os dias, poder viajar e tal...

O regime não é perfeito, claro. Existe uma censura, óbvio, é um país socialista, e para os que falam que "socialismo não pode ter ditadura", pois bem, que leiam um pouco melhor os pressupostos adotados - é uma ditadura sim, há um domínio do estado sim...Não vou nem entrar no mérito de questionar qual é afinal o real problema disso, já que me tomaria o post todo(e mais uns outros), já que estamos nessa merda de falácia em que democracia=liberdade e estes são valores "inquestionáveis"...enfim, um dia eu juro que falo o que penso sobre isso.

Ainda existe machismo, ainda existe racismo, homofobia então nem se fala...Opressão existe, mas vejo lá um processo mais sólido e maduro de combatê-la que aqui, em que tudo cai no mercado - se vc é um nicho do mercado, todo mundo tem que te aceitar; se vc pode ser força de trabalho barata para o mercado, explorar vc é inclusão social - como fazem com tantos transexuais e com tantas mulheres negras ou obesas, a atender telemarketing, e com tantos deficientes físicos/mentais a empacotar nos caixas de supermercado -o que não por acaso me lembra o Admirável Mundo Novo....

Mas vamos lá: em que país pobre(e até alguns ricos, como o Brasil) do mundo a maioria dos jovens imagina que poderia viajar p/ outro país? Em que país do mundo os jovens chegam a idade adulta com o mínimo de estudo, saúde e comida, a ponto de reclamarem por não terem mais que um par de sapatos, por terem "apenas" 51% dos jovens na universidade, por existir toque de recolher, por não poderem ouvir Beatles, como citado no filme?

Os jovens brasileiros das nossas periferias têm celulares, muitos pares de sapatos, tudo comprado com parcelas eternas, trabalham ao invés de estudar, e por isso nunca vão querer ouvir Beatles, Bossa Nova, ou qualquer outra manifestação artístico-cultural genuína e valorosa, ouvem eguinha pocotó e essa mercantilização do funk(que veio das próprias periferias, e o mercado corrompeu e vendeu), não têm acesso a saúde nem a formação nela, as meninas não tem muito controle sobre sua sexualidade(o controle que tem é "vou ao baile sem calcinha", sucesso de vendas), sendo submetidas a gravidez indesejada e doenças, todos os jovens comem comida entupida de gordura trans e outras porcarias industriais, correm risco todos os dias de serem mortos pela polícia ou pelo tráfico simplesmente por estarem no lugar errado, e o maior sonho de ascensão social é virar traficante de drogas, se não se afundarem no crack....

Quem tem mais poder de decisão sobre a própria vida, afinal? Qual dos dois jovens?
E o que é afinal liberdade, senão poder decidir sobre si mesmo?

Por- Isadora Franco Di Gianni - http://divinastetas.blogspot.com

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Encontro do Rio


Gente, alguém coloca um testemunho do que rolou no Rio aqui!

Socializem a informação com os desafortunados que não puderam ir na XVI Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba!
Não precisa ser um texto de aspecto jornalístico, apenas um comentário curto já tá legal!
E se possível coloquem fotos, caramba!

Grande Abraço !



segunda-feira, 2 de junho de 2008

CAPA DA NEW YORKER SOBRE FIDEL REALÇA O QUANTO "VEJA" SE TORNOU VULGAR


Vale a pena dar uma conferida no Vi o Mundo

Se mostra a que ponto chegou a panfletária Veja : O tratamento dado ao assunto Cuba.

"Classe é outra coisa. Não é só questão de estampa. A New Yorker da semana traz um belo texto de Alma Guillermoprieto sobre a despedida de Fidel. "Vamos, Fidel, não há ninguém em seu caminho", ela escreve - nos transportando para uma porta imaginária pela qual passa "o filho do fazendeiro espanhol rico com a lavadeira cubana", com um ondulante roupão de hospital.

"Depois de quase cinqüenta anos, é difícil argüir que de fato houve o desejo do povo cubano de ver seu líder detonado por um charuto explosivo ou de dar boas vindas a uma invasão terceirizada", escreveu.

"Hoje, mesmo a mais veemente oposição dentro de Cuba tem poucas ilusões de que Washington adotará uma postura informada, esclarecida, não-intervencionista e generosa" diante da transição na ilha, afirma ela, oferecendo a própria sobrevivência de Fidel como prova de que o embargo econômico mantido por nove presidentes americanos fracassou.

O site da revista tirou do arquivo um perfil escrito por Jon Lee Anderson, o biógrafo de Che - aquele, que detonou a Veja(...)

Confiram o restante em http://www.viomundo.com.br/opiniao/capa-da-new-yorker-sobre-fidel-realca-o-quanto-veja-se-tornou-vulgar/ Vale a pena!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

XVI Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba






PROGRAMAÇÃO:

Dia 21.05.08 (4ª. feira)


18:30-20:30h - Solenidade de Abertura da XVI
Convenção
20:30-21:30h - Atividade Cultural

Dia 22.05.08 (5ª. feira)

08:00-10:00 h – Novos Credenciamentos

1-Tema: “Cuba Resiste há Meio Século e Amplia as Conquistas Sociais”.
09:30-11:30 h – Palestrantes: Dr. Pedro Nuñez Mosquera
(Embaixador de Cuba)
Sr. Fernando Morais
(Escritor e Jornalista)

11:30-12:00 h – Debate
12:00-13:30 h – Almoço

2-Tema: “Contra o Terrorismo, o Bloqueio e Outras Formas de Agressão dos EUA a Cuba: a Batalha pela Libertação dos Cinco Heróis”.
13:30-15:30 h – Palestrante: Cubano
Cubano
Dr. João Luiz D. Pinaud

15:30-16:30 h – Debate
16:30-18:30 h – Entrega da Medalha Tiradentes a Familiares dos Cinco Heróis
18:30-19:00 h – Atividade Cultural
19:00h – Jantar

19:30-22:30h – Reunião das Entidades de Solidariedade a Cuba

Dia 23.05.08 (6ª. feira)

3-Tema: “A Importância das Relações de Amizade, Solidariedade e Cooperação Brasil-Cuba”.
9:00-11:00 h – Palestrantes: Vice-Presidente do ICAP
Minas Gerais
Pernambuco
Rio Grande do Sul
São Paulo

11.00-12:00 h – Debate
12:00-12:30 h – Atividade Cultural
12:30-13:30 h – Almoço

13:30-18:00 h – COMISSÕES DE TRABALHO:

Comissão 1 – Cultura e Resistência. A Desinformação sobre a Realidade Cubana. Os Meios Alternativos e as Novas Tecnologias.
Comissão 2 – A Batalha pela Libertação dos Cinco Heróis Prisioneiros do Império. Propostas de Ação.
Comissão 3 – Fortalecimento da Solidariedade a Cuba e a Luta Contra o Bloqueio. Propostas de Ação.
Comissão 4 – As Associações de Pais e Graduados em Cuba. Processo de Homologação dos Diplomas Universitários.

18:00-19:00 h – Show: “Trovas da Pátria Grande”
19:00 h – Jantar
19:30 h – Reunião dos 4 Relatores das Comissões

Dia 24.05.08 (sábado)
09:00-13:00 h – Plenária Final para Aprovação de Propostas e Escolha do Local da XVII Convenção
13:30-18:00 h – FESTA CUBANA

sábado, 10 de maio de 2008




CUBA: UMA SOCIEDADE EM MOVIMENTO


Por Lúcio Costa*

Refletir sobre Cuba exige superar os muitos véus que impedem de ver a dinâmica efetiva, os problemas e os desafios reais da sociedade cubana. Os obstáculos que se interpõem à reflexão são de distintas ordens. Há o discurso do Governo dos Estados Unidos da América e suas agências de propaganda para os quais Cuba é uma ditadura comunista; existe o discurso dos saudosistas do socialismo realmente existente na URSS e nos países do Leste Europeu para os quais Cuba é a realização plena do socialismo e, por fim, temos aqueles que olham para Cuba e enxergam nela uma ditadura estalinista com mojitos, Pablo Milanés e Silvio Rodrigues.
Em todos estes discursos sobre Cuba e sua Revolução, em que pesem suas distintas motivações e orientações político-ideológicas, encontramos o elemento comum da estandardização e redução de Cuba à realidade de uma sociedade que, seja por seus erros – ser um estado totalitário – ou por seus acertos – ser a materialização plena da utopia socialista – em que o devenir é esterilizado, congelado pela repetição dos dogmas. Olhar para Cuba pede despir-se destes véus e tomá-la como ela efetivamente é, como é vivida e pensada pelos cubanos e cubanas realmente existentes.

Inicialmente, há que sublinhar o fato de que nestes quarenta e nove anos abertos com a derrubada do ditador Fulgêncio Batista, Cuba viveu um processo acelerado de mudanças. Transformou-se de uma sociedade rural, jovem, com imensas massas de analfabetos, em que os serviços públicos alcançavam reduzidos setores da população em uma sociedade urbana na qual cerca de 70% da população vivem nas cidades, em que os serviços públicos como, por exemplo, saúde e educação são universais, em que existe uma maciça presença feminina no mercado de trabalho e nas universidades, onde a universalização dos serviços públicos ampliou a expectativa de vida o que implicou que o contingente de pessoas da terceira idade tenha se ampliado significativamente, com índices de violência e criminalidade baixíssimos se comparados a quaisquer países da América Latina e África e mesmo aos EUA.
No entanto, a realidade revelada acima não implica em que mazelas de séculos de subdesenvolvimento tenham sido plenamente superadas. Cuba ainda não conseguiu romper plenamente com os limites de uma economia dependente de produtos primários e, se é verdade que não existem favelas em que milhões de pessoas vivem em sub-habitações, sem saneamento ou serviços sociais todavia ainda persiste um importante déficit na construção de moradias populares.
Desde o ponto da vida social, as transformações iniciadas com a Revolução deram origem a um processo de reorganização da sociedade civil existente, pois de um lado, toda uma série de formas associativas desapareceram e, por outro lado, surgiram novas organizações.
A reorganização da sociedade cubana no período posterior à Revolução deu origem tanto a novas organizações profissionais e civis, quanto a "organizações de massas". Estas últimas, têm caráter nacional e representação legal de determinados setores sociais junto ao Estado como, por exemplo, a Central de Trabalhadores de Cuba, Federação de Mulheres Cubanas, Comitês de Defesa da Revolução, Federação de Estudantes Universitários e a Federação de Estudantes do Ensino Médio.
Ao longo dos anos a nova estrutura demográfica, a mobilidade social ascendente decorrente da democratização das relações de renda e poder, a elevação dos níveis de escolaridade e formação cultural da população ensejaram mudanças que, ao longo destes últimos quarenta e nove anos, foram tornando o tecido social cubano mais complexo e plural.
O processo de complexificação e ampliação da pluralidade social e cultural cubanas tem dado origem ao nascimento de novas sensibilidades culturais e demandas sociais as quais se expressaram em novas redes de sociabilidade e formas associativas que se expressam, por exemplo, no surgimento de associações de caráter local, profissional, desportivo, cultural, ecumênico, étnico, ONGs, etc.
Nos anos oitenta, o processo de "retificação dos erros e tendências negativas da Revolução" levou a uma maior valorização da participação popular. Na década de noventa, ocorreu uma ampliação significativa do associativismo em Cuba. Em decorrência da brutal crise econômica quando da queda de aproximadamente 30% do PIB e de cerca de 80% de seu comércio internacional em função do fim do "socialismo realmente" existente na URSS e nos países do Leste Europeu deu-se tanto o crescimento do protagonismo popular nos marcos das formas organizativas já existentes, quanto o surgimento de novas organizações civis.
Registre-se que a ampliação do papel e das funções de organizações já existentes como, por exemplo, as igrejas e também as novas redes e formas associativas, tais como as associações de moradores, desempenharam um papel relevante no enfrentamento da dura realidade do "período especial" colaborando para fazer frente às carências e necessidades que a ação do Estado por si só já não era capaz de atender.
Levar em consideração este cenário, nos permite compreender porque o discurso do presidente cubano, Raul Castro, em 2007, quando da comemoração do 26 de Julho – dia do ataque da guerrilha de Fidel ao quartel Moncada em 1956 – chamando à discussão ampla e profunda dos problemas que afligem o país e das soluções que devem ser tomadas encontrou eco, desatou esperanças e teve como resposta a participação cidadã nos debates travados nos bairros e locais de trabalho.
O recente congresso da UNEAC (União Nacional de Escritores e Artistas Cubanos), realizado em fins de março em Havana, faz parte e revela a profundidade dos debates travados em Cuba.
Refletindo o momento vivido, em seu discurso o vice-presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, Carlos Lage Dávila, falou às claras problemas de Cuba ao dizer que “viemos da ausência dramática de alimentos e medicamentos, de ruas desoladas, de noites às escuras, de dupla moeda”, da “dupla moral, das proibições, de uma imprensa que não reflete a realidade como queremos, de uma desigualdade indesejada”. Segundo o Ministro, estas “são feridas de guerra, de uma guerra que ganhamos”.
Ao falar no Congresso, num discurso bastante difundido, o importante intelectual e historiador, Eusébio Leal, afirmou que "se estão tocando coisas tão profundas como aquelas que em 1959 – e antes – minha geração via como as mais altas aspirações" e que "é necessário nos prepararmos para o novo destino de nosso país".
Nos debates travados entre os intelectuais cubanos encontramos uma aguda avaliação das questões mais diretamente "culturais" tais como, a crítica aos "anos cinzentos" da década de setenta, quando o "realismo socialista" impunha como normas o "maniqueísmo e dogmatismo"; a "prática cultural dos meios de comunicação de massa" cubanos com sua "banalidade e trivialidade" aliadas a presença neles de "ideologias reacionárias através dos produtos midiáticos dos Estados Unidos e de seus epígonos e análogos do Brasil, México e outros países".
Criador e criatura desta sociedade civil que debate e busca soluções para os problemas do país, há cerca de um mês, o jornal diário GRANMA, órgão do Comitê Central do PC de Cuba, tem dedicado todas as sextas-feiras quatro páginas para a sessão "Cartas à Direção". Nesta, os leitores e leitoras têm apresentado suas opiniões e criticas.
Para que não se incorra na tentação de acreditar que as cartas publicadas trazem apenas reflexões de menor relevância tomemos a edição de 11 de abril. Nela, encontramos uma carta intitulada "Não funciona o conceito de nos sentirmos donos" na qual o Sr. P. Núñez sustenta que "o conceito de que todos somos donos dos meios de produção, é uma frase de ocasião sem maior sustento real" porque "ser dono implica em participação efetiva e total, desde a determinação com pleno conhecimento de causa do que e como vai ser feito". Em outra carta, "Mais Produtores", do Sr. I. Hernández Lorenzo, é dito que o "trabalhador não deve ser apenas uma engrenagem do Estado mas sim agente transmissor de idéias e conhecimentos". Expressão deste momento de debate, no dia 28 de abril, quando da realização da 6a Plenária do Comitê Central, o Bureau Político informou que considerava necessário realizar o 6º Congresso do Partido que, segundo comentários, deve ocorrer em fins de 2009.
Como vimos, ao longo dos anos a sociedade civil tem demonstrado sua vitalidade, complexidade, pluralidade e capacidade de aportar protagonismo e reflexões às discussões travadas no Estado, no Poder Popular e no Partido Comunista de Cuba em torno dos problemas, encruzilhadas e caminhos que Cuba deve trilhar.
Como dizia Marti, "ganado el pan hagase la poesia". Daí que a preservação do socialismo existente em Cuba relaciona-se à capacidade que a Revolução tenha de enfrentar e superar os problemas econômicos surgidos com a crise econômica posterior ao fim da URSS e dos estados socialistas do Leste da Europa.
No entanto, a consecução mesma deste objetivo dependerá em boa medida tanto da capacidade que tenha o Estado de relacionar-se positivamente com a sociedade civil cubana, superando o dogmatismo e o burocratismo aprofundando o reconhecimento da importância do protagonismo popular no enfrentamento aos problemas econômico-sociais, quanto da capacidade da sociedade civil, das organizações populares, de desempenharem um papel ativo e propositivo na renovação do socialismo. Mais uma vez, os destinos da Revolução Cubana encontram-se nas mãos do povo!
___________
Lucio Costa é advogado, membro da Executiva Estadual do PT do RS e da Coordenação Nacional da Democracia Socialista (DS, tendência interna do PT) e participou do VII Encontro Hemisfério Contra os Tratados de Livre Comércio e Pela Integração dos Povos, realizado no inicio de abril passado em Havana.

terça-feira, 6 de maio de 2008

4ª Convenção de Solidariedade a Cuba

Evento em Porto Alegre, no SindBancários!!!!

Estarei lá!Quem puder dar uma passada lá dê um aviso pra almoçarmos juntos!

Abraços!


Trovas da Pátria Grande - dia 09/05

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Mudanças em Cuba?

Carta Maior

O QUE A MÍDIA NÃO CONTA

Mudanças em Cuba?

O acesso ao celular tornou-se massificado em todo o mundo ocidental nos anos 90. Nessa época, Cuba tinha prioridades diferentes à de proporcionar acesso ao telefone celular para a população. Segundo a Unicef, a cada dia mais de 26 mil crianças menores de cinco anos morrem de fome ou de doenças curáveis. Nenhum cubano faz parte destas listas.

A imprensa tem sido prolixa com respeito às mudanças ocorridas em Cuba depois da escolha de Raúl Castro como presidente da República, e também comemorou uma eventual liberalização da economia da ilha (1). Mas esta realidade foi tratada, como sempre ocorre quando se fala de Cuba, de maneira superficial e errada. Seja com respeito à aquisição de aparelhos elétricos, aos hotéis ou aos celulares, as restrições que estavam vigentes até pouco tempo atrás tinham explicações racionais, mas as multinacionais da informação não abordaram nenhuma delas.

Na verdade, foi lançado um intenso debate no início do ano 2008, pouco antes da decisão de Fidel Castro de não se apresentar para a reeleição, com o objetivo de melhorar o socialismo cubano. Esse debate envolveu o conjunto da população e gerou 1,3 milhão de propostas.

Os aparelhos elétricos
A mídia anunciou com grande estrondo que os cubanos já eram livres para adquirir aparelhos elétricos e eletrodomésticos, dando a entender que antes a venda estava completamente proibida (2). Contudo, a realidade é sensivelmente diferente. A venda destes artigos jamais esteve proibida em Cuba, fora alguns produtos de informática e outros de grande consumo energético, tais como os fogões elétricos ou os microondas, em uma época em que a produção energética de Cuba era insuficiente para cobrir as necessidades da população.

Com efeito, durante o período especial, que começou em 1991, depois da desintegração do bloco soviético, Cuba ficou sozinha diante do mercado internacional e teve que enfrentar o desaparecimento de mais de 80% do seu comércio exterior e, também, o acirramento da implacável agressão econômica dos Estados Unidos. Neste contexto extremamente difícil, a ilha do Caribe foi golpeada por fortes penúrias, particularmente quanto à energia, o que provocava longos apagões. Nessa época, as autoridades limitaram a venda de aparelhos elétricos devoradores de energia. Essas restrições estavam totalmente justificadas. De fato, teria sido irresponsável proceder de outro modo, uma vez que o sistema energético, fortemente subvencionado, poderia ter entrado em colapso.

Graças à engenhosidade dos cubanos, aos esforços que contaram com o apoio da população e às novas relações comerciais com países como a Venezuela e a China, Cuba dispõe de uma economia mais forte e conseguiu resolver seu problema energético. Graças à “Revolução energética”, lançada em 2006, que consistiu em substituir as lâmpadas e os antigos eletrodomésticos, como televisores, refrigeradores, ventiladores e outros aparelhos elétricos, por produtos mais modernos cujo consumo é menor, milhões de cubanos foram beneficiados por toda uma gama de produtos eletrodomésticos novos com preços subvencionados pelo Estado, ou seja, abaixo de seu valor de mercado.

Atualmente, a economia de energia que foi conseguida permite enfrentar a demanda da população, o que explica a eliminação progressiva das restrições quanto à aquisição de novos aparelhos eletrodomésticos, computadores e outros, como reprodutores de vídeo. Assim, os cubanos têm acesso a uma seleção mais ampla de bens de consumo. Portanto, as limitações tinham como explicação apenas um fator econômico, isto é, uma produção de energia insuficiente. A imprensa ocidental não se incomodou em abordar estes elementos ao tratar do tema.

A mídia apressou-se em sublinhar, com razão, que muitos cubanos não poderiam ter acesso aos artigos à venda pelo valor de mercado devido ao seu elevado custo com respeito ao salário relativamente modesto vigente em Cuba. Não obstante, esta realidade concerne a uma parte imensa da população mundial, que vive na pobreza e cujas principais preocupações não são adquirir um reprodutor de DVD ou um microondas, mas, sim, comer três vezes por dia e ter acesso a saúde e educação, angústias inexistentes em Cuba.

Assim, segundo o último relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) sobre a insegurança alimentar no mundo, 854 milhões de pessoas em todo o planeta, entre elas 9 milhões nos países industrializados, sofrem de desnutrição (3). No continente americano somente três países já alcançaram os objetivos da Cúpula Mundial da Alimentação 2015: Cuba, Guiana e Peru (4). Segundo a Unesco, atualmente, um de cada cinco adultos no mundo não é alfabetizado, ou seja 774 milhões de pessoas, e 74 milhões de crianças carecem de escolas (5). Segundo a Unicef, a cada dia mais de 26.000 crianças menores de cinco anos morrem de fome ou de doenças curáveis, ou seja 9,7 milhões de crianças por ano (6). Nenhum cubano faz parte destas listas.

As multinacionais da informação sempre evitam apresentar a realidade cubana em relação com a problemática latino-americana e do Terceiro Mundo, porque ela é edificante e leva, inevitavelmente, a fazer comparações.

Os celulares
O acesso ao celular também se ampliou em Cuba por diversas razões (7). A primeira é de ordem econômica e a segunda de ordem tecnológica. O acesso ao celular tornou-se massificado em todo o mundo ocidental nos anos 90.

Nessa época, Cuba tinha outras prioridades diferentes à de proporcionar acesso ao telefone celular para a população. Os desafios guardavam relação com a alimentação, o transporte e a moradia. O problema alimentar atualmente foi resolvido em Cuba. No que se refere ao transporte, está sendo solucionado, principalmente graças à importação de numerosos ônibus da China. Quanto à moradia, trata-se, sem dúvida, da principal dificuldade que a população enfrenta.

Neste caso, também não se trata de uma especificidade cubana. A realidade é a mesma em qualquer cidade do primeiro mundo, como Paris, com uma diferença: em Cuba o problema é a falta de moradia devido às sanções econômicas norte-americanas, que impedem a construção de 100.000 habitações adicionais por ano, enquanto que os parisienses estão diante de uma absurda aberração. Com efeito, mais de 100.000 moradias, que pertencem às classes acomodadas, estão vazias em Paris, enquanto 100.000 famílias estão procurando um teto. Apesar de que existe uma lei para requisitar essas vivendas, ela nunca é aplicada pelas autoridades. Em Cuba, os cidadãos jamais aceitariam semelhante escândalo (8).

Na França, segundo o Ministério da Habitação, 1,6 milhão de pessoas vivem em moradias sem chuveiro ou sem banheiro. Mais de um milhão de franceses estão alojados em “situação de superpopulação acentuada”, 550.000 pessoas vivem em pensões, entre elas 50.000 crianças, 146.000 em caravanas e 86.000 são “sem-teto” e moram na rua (9). Contudo, em torno de dois milhões de moradias estão vazias na França, 136.554 delas em Paris. Outra aberração: somente 32.000 moradias em Paris pagam o imposto sobre moradias vazias, quando deveria ser pago por mais de 136.000. Mas as autoridades preferem fechar os olhos (10).

Voltando ao celular, o segundo obstáculo era uma questão tecnológica (ainda é o caso para o acesso a Internet, porque Washington impede Cuba de se conectar ao cabo de fibra óptica do Estreito da Flórida, que lhe pertence). Cuba dispõe de uma conexão por satélite limitada que, por outro lado, é extremamente cara. Essa é a razão pela qual o acesso ao telefone celular era restrito. Com a melhora da situação econômica, a oferta foi ampliada para toda a população, ainda que as tarifas continuem sendo muito elevadas. Neste caso, ocorre a mesma coisa: apesar de que o celular está amplamente difundido no Ocidente, continua sendo um luxo para muitos habitantes do planeta.

O acesso aos hotéis
Quanto aos hotéis, a mídia também demonstrou parcialidade. Até 1º de abril de 2008, o acesso aos hotéis de luxo não estava proibido, como afirmou a imprensa ocidental, mas limitado. Aqui, a explicação é de ordem social e econômica.

Nos anos 1990, o ressurgimento de um fenômeno que foi erradicado quando triunfou a Revolução, em 1959, preocupava muito as autoridades: a prostituição. Para tentar conter este problema, que surgiu das dificuldades que os cubanos tiveram que enfrentar, o governo de Havana decidiu limitar o acesso da população às infra-estruturas turísticas. Graças ao bom desempenho dos trabalhadores sociais e à melhora da situação econômica, este fenômeno social, se bem ainda não desapareceu completamente, foi atenuado substancialmente.

A segunda explicação é econômica. De fato, com o desenvolvimento vertiginoso do turismo, a partir dos anos 1990, a capacidade hoteleira cubana mostrou ser insuficiente para acolher ao mesmo tempo os estrangeiros e os cubanos. As autoridades privilegiaram a acolhida dos estrangeiros, principalmente na alta temporada, partindo de um raciocínio econômico: um turista cujas demandas de veraneio não fosse possível satisfazer gastaria seu dinheiro fora do país, o que geraria um capital ocioso significativo para a economia do país. Em compensação, a pequena categoria de cubanos que possui os recursos necessários para pagar por um hotel de luxo gastaria seu dinheiro em outros setores, mas ele ficaria no país.

A imprensa ocidental também ficou apenas nas tarifas relativamente proibitivas para o cubano médio. Segundo a Associated Press, são pouquíssimos os cubanos que podem pagar por um quarto que custa 173 dólares por noite no hotel “Ambos Mundos” (quatro estrelas) da Havana Velha, um dos estabelecimentos turísticos mais prestigiosos da capital, que era o preferido de Ernest Hemingway (11). E tem razão. Mas a imprensa esquece, mais uma vez, de mencionar que o acesso a um quarto de um hotel de renome é um luxo para todos os habitantes do Terceiro Mundo e para uma ampla categoria de cidadãos que vivem em países desenvolvidos. Apenas como comparação, quantos franceses, por exemplo, podem pagar por um quarto de 730 euros (o mais barato) no Ritz (cinco estrelas) de Paris? (12)

Liberalização econômica?
Será que estas reformas levam para uma certa liberalização da economia cubana? (13). Seria um erro pensar isso. É preciso lembrar que nos anos 1980 os cubanos tinham acesso com abundância aos bens de consumo. Trata-se simplesmente de que estão suprimindo restrições que já não têm razão de ser. Outras deveriam vir a seguir, muito em breve. Assim, o governo decidiu alugar terras ociosas para pequenos produtores privados com a finalidade de aumentar a produção agrícola, no momento em que os preços das matérias primas atingiram picos históricos (14).

As verdadeiras mudanças em Cuba ocorreram em 1959 e a ilha está em constante evolução desde essa data. Lá, a crítica é constante e basta com ler a imprensa nacional para ficar convencido disso, especialmente os jornais Juventud Rebelde e Trabajadores, cujo tom é extremamente incisivo e sem concessões. Há uma vontade política inegável, entre os altos dirigentes, de promover o debate. A própria filha de Raúl Castro, Mariela Castro, sexóloga que defende os direitos das minorias gay e lésbica, advogou em favor do “socialismo, porém com menos proibições” (15). Mas a mídia finge não perceber esta realidade.

Contrariamente ao que pretendem —e esperam— as multinacionais da informação, Washington e a União Européia, os cubanos não voltarão para uma economia de mercado, senão que vão continuar se esforçando na construção de um socialismo moderno, mais justo e mais racional.


Notas

(1) Will Weissert, «Raul´s Reforms May Strengthen Communism», 2 de abril de 2008.

(2) Will Weissert, «Castro Reforms: Dvd´s, Farms for Cubans», The Associated Press, 2 de abril de 2008.

(3) Organisation des Nations unies pour l´alimentation et l´agriculture, L´état de l´insécurité alimentaire dans le monde 2006 (Rome : FAO, 2006), p. 8.

(4) Ibid., p. 17.

(5) Institut de statistique de l´UNESCO, «Alphabétisme», 9 de abril de 2007. http://www.uis. unesco.org/ ev.php?URL_ ID=6401&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION= 201 (site consultado em 15 de abril de 2008).

(6) UNICEF, A situation des enfants dans le monde 2008. A survie de l´enfant ( New York , décembre 2007), p. 1.

(7) The Associated Press, «Cuban Restrictions Eased By Raul Castro», 2 de abril de 2008, Will Weissert, «Cubanos hacen largas filas para comprar celulares», The Associated Press/El Nuevo Herald, 15 de abril de 2008.

(8) Droit au Logement, «Le logement em chiffres: exclusions et inégalités», 2002. http://www.globenet .org/dal/ index.php3? page=SOMMSITUCHI F (site consultado em 15 de abril de 2008).

(9) Ministère du Logement, de l'Equipement et des Transports, Questionnaire da Commission da Production et des Echanges. Projet de LFI pour 2001 & INSEE, enquête 2001 sur a population «fréquentant les services d'hébergement et les distributions de repas chauds», in Droit au Logement, op. cit.

(10) Droit au Logement, op. cit.

(11) Will Weissert, «Thanks Raul: Cubans Can Stay in Hotels», The Associated Press, 1 de abril de 2008.

(12) Hôtel Ritz Paris, «Tarifs».
http://www.ritzpari s.com/jump_ to.asp?id_ target=1250&id_lang=1 (site consultado em 15 de abril de 2008).

(13) Reuters, «Les téléphones portables désormais autorisés à Cuba», 14 de abril de 2008.

(14) The Associated Press, «Cuba Lends private Farmers Unused Land», 1 de abril de 2008; Andrea Rodriguez & Will Weissert, «Communiste Cuban Solution: Private Farms», 5 de abril de 2008.

(15) Alessandra Coppola, «Socialismo, ma com meno proibizioni», Corriere della Sera, 27 de março de 2008.

Salim Lamrani é profesor, escritor e jornalista francés especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Já publicou os libros: "Washington contre Cuba" (Pantin: Le Temps des Cerises, 2005), "Cuba face à l´Empire" (Genève: Timeli, 2006) e "Fidel Castro, Cuba et les Etats-Unis" (Pantin: Le Temps des Cerises, 2006). Acaba de publicar "Double Morale. Cuba, l´Union européenne et les droits de l´homme" (Paris: Editions Estrella, 2008).
Contato: lamranisalim@ yahoo.fr

Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores

domingo, 20 de abril de 2008

Cuba - Socialismo: O nome político do amor




Publicado originalmente no site http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=32543
em 11/04/2008


Frei Betto *

Adital -
Por que o socialismo, em tese uma alternativa humanitária ao capitalismo, fracassou na Europa e na Ásia? O capitalismo teve a esperteza de, ao privatizar os bens materiais, socializar os bens simbólicos. De dentro do barraco de uma favela uma família miserável, desprovida de direitos básicos como alimentação, saúde e educação, pode sonhar com o universo onírico das telenovelas e ter fé de que, através da loteria, da sorte, da igreja que lhe promete prosperidade ou mesmo da contravenção, haverá de ter acesso aos bens supérfluos.

O socialismo cometeu o erro de, ao socializar os bens materiais, privatizar os simbólicos, e confundiu crítica construtiva com contra-revolução; cerceou a autonomia da sociedade civil ao atrelar ao partido os sindicatos e movimentos sociais; coibiu a criatividade artística com o realismo socialista; permitiu que a esfera de poder se transformasse numa casta de privilegiados distantes dos anseios populares; e cedeu ao paradoxo de conquistar grandes avanços na corrida espacial e não ser capaz de suprir devidamente o mercado varejista de gêneros de primeira necessidade.

Hoje, resta Cuba como exemplo de país socialista. Todos conhecemos os desafios que a Revolução enfrenta às vésperas de seu meio século de existência. Sabemos dos efeitos nefastos do bloqueio imposto pelo governo dos EUA e de como a queda do Muro de Berlim deteriorou a economia da Ilha.

Apesar de todas as dificuldades, nesses 49 anos a Revolução logrou assegurar a 11,2 milhões de habitantes os três direitos básicos: alimentação, saúde e educação. Elevou a auto-estima da cidadania cubana, que tão bem se expressa em suas vitórias nos campos da arte e do esporte, bem como na solidariedade internacional, através de milhares de profissionais cubanos das áreas da saúde e da educação presentes em mais de uma centena de países do mundo, em geral em regiões inóspitas marcadas pela pobreza e a miséria.

O socialismo cubano não tem o direito de fracassar! Se acontecer, não será apenas Cuba que, como símbolo, desaparecerá do mapa, como ocorreu à União Soviética. Será a confirmação da funesta previsão de Fukuyama, de que "a história acabou"; a esperança - uma virtude teologal para nós, cristãos - findou; a utopia morreu; e o capitalismo venceu, venceu para uns poucos - 20% da população mundial que usufrui de seus avanços - sobre uma montanha de cadáveres e vítimas.

Nós, amigos da Revolução cubana, não esperamos de Cuba grandes avanços tecnológicos e científicos, serviços turísticos de primeira linha, medalhas de ouro em disputas desportivas. Esperamos mais do que isso: a ação solidária de que falava Martí; a felicidade de um povo construída em base a valores éticos e espirituais; o princípio evangélico da partilha dos bens; a criação do homem e da mulher novos, como sonhava o Che, centrados na posse, não dos bens finitos, e sim dos bens infinitos, como generosidade, desapego, companheirismo, capacidade de fazer coincidir a felicidade pessoal com os sucessos comunitários.

Em resumo, almejamos que, em Cuba, o socialismo seja sempre sinônimo de amor, que significa entrega, compromisso, confiança, altruísmo, dedicação, fidelidade, alegria, felicidade. Pois o nome político do amor não é outro senão socialismo.

[Autor de "A mosca azul - reflexões sobre o poder" (Rocco), entre outros livros]


* Frei dominicano. Escritor.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Uma visão sobre Cuba

Mais um texto interessante!

Desta vez é da companheira Dirlene, de Minas Gerais:


Uma visão sobre Cuba


Por Maria Dirlene Trindade


Participei de um grupo de mineiros que esteve em Cuba do dia 20 de janeiro a 5 de fevereiro de 2008, nas Brigadas de Solidariedade. A carta renuncia de Fidel e os comentários da imprensa e das diversas pessoas que encontro, me levaram a escrever este texto, considerando o que vivi, vi, ouvi, observei e estudei.

Como todas (os) brasileiras (os), influenciadas (o) pela intensa propaganda, fomos a Cuba procurando a miséria e a ditadura. E, no nosso subconsciente, o povo deveria ser muito passivo e muito bronco, para manter uma ditadura de 49 anos.

E o que encontramos? Tivemos um choque pois encontramos um povo com um nível cultural bem acima da media do povo brasileiro. Tivemos liberdade de ir e vir, de bisbilhotar, entrar em todos os lugares e de conversar com todos. Alias, ate de forma muito invasiva, entravamos nas casas, nas escolas infantis, nos n museus. Procurávamos crianças e adultos de pés no chão, mendigando, dormindo debaixo de marquises, casas miseráveis. Só então entendemos a verdade do out door próximo ao aeroporto: “Esta noite, 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma e cubana”. Outro: “A cada ano, 80 mil crianças morrem vitimas de doenças evitáveis. Nenhuma delas e cubana”. E nos sabemos que milhares delas são da 8a. economia do mundo, a brasileira.

Alem disto, chegamos um dia apos o encerramento do processo eleitoral, com a eleição do Parlamento, eleição não obrigatória que teve 95% de participação. E, para nossa surpresa, ficamos sabendo que o Partido Comunista Cubano não e uma organização eleitoral e portanto não se apresenta nas eleições e nem postula candidatos. Os candidatos são tirados diretamente, em assembléias publicas nas diversas formas de organizações existentes: do bairro, das mulheres, jovens, estudantes, campesinas. Que depois vão se reunindo por região, estado e finalmente, no nível nacional. Estes representantes nacionais, elegem o presidente e o vice. Todos os representantes podem ser destituíveis, a qualquer momento, pelas suas bases, caso não estejam respondendo ao projeto de sua eleição. E vimos como 46% dos eleitos são mulheres (no Brasil conseguimos as cotas de 30% para disputar e não eleitas). As estruturas de funcionamento são mais próximas de uma democracia direta. Parece-me um contra-senso chamar este processo de ditadura. Seguramente, e diferente da democracia burguesa, onde apos colocar o voto na urna finda a obrigação do eleitor. Os críticos valem-se da mágica de que “o que e bom para os EUA e bom para o resto do mundo”. Desconhecem, e não querem que seja conhecido, outro processo de participação popular, como o Cubano.

Tentando também entender o que víamos, um povo simples e culto, simpático e sem stress, procuramos estatísticas: alfabetização de 99,8% (no Brasil 86,30%) e que de 1959 a 2007, a quantidade de escolas passou de 7.679 a 12.717, os professores passaram de 22.800 para 258.000, com uma população em torno de 11 milhões de habitantes sendo o pais que o maior índice de professores por habitante do mundo. No IDH 2007 da ONU, o Brasil comemorou o fato de figurar em 70º lugar. Cuba figura em 51º lugar. O país conta com 70.594 médicos para uma população de 11,2 milhões (1 médico para 160 habitantes); índice de mortalidade infantil de 5,3 para cada 1.000 nascidos vivos (nos EUA são 7 e, no Brasil, 27); 800 mil diplomados em 67 universidades gratuitas, nas quais ingressam, por ano, 606 mil estudantes. Dados da Unesco em 2002 relatavam que 98% das residências cubanas possuíam instalações sanitárias adequadas (contra 75% das brasileiras). Dados da CIA, central de inteligência americana, estimava em 1,9% o desemprego em Cuba. No Brasil , segundo a mesma fonte, o índice era de 9,6% no ano de 2007. E que, a expectativa de vida ao nascer na ilha era de 77,41 anos e no Brasil era de 71,9 anos.

Esses números a despeito de ser uma pequena ilha, ao alcance de um tiro de canhão disparado de Miami e que resistiu a uma tentativa de invasão norte-americana (Baía dos Porcos, 1961) e a várias outras de assassinato de Fidel Castro e ações terroristas orquestradas pela CIA, ter um bloqueio econômico e político apenas rompido por países com autonomia como Venezuela, Bolívia, China e alguns paises da Europa.

E nos, com a arrogância de quem tem toda a informações pela imprensa livre brasileira (sic) continuávamos procurando outros sinais de desmandos: e os presos políticos?

De fato, há pessoas detidas mas não pelo que pensam, mas pelo que fazem, como o de organizar grupos financiados pela embaixada dos EUA. Fora isso, todas as personalidades importantes da dissidência estão em liberdade e tem suas atividades políticas como Martha Beatriz Roque, Vladimiro Roca e Oswaldo Paya. E importante ressaltar que Cuba sofreu intensamente com o terrorismo nos últimos 40 anos, perfazendo mais de 3500 mortos. E, fica fácil mostrar a postura dos EUA com documentos oficiais, confirmando o financiamento de cubanos exilados para promover ações contra o governo cubano. O museu na Praia Giron (ou Baia dos Porcos), e um monumento de denuncia as ações terroristas, iniciadas desde 1961 quando o se rompe às relações e se instaura o bloqueio. Em 1963 o democrata Kennedy, aprova o plano de manter todas as pressões possíveis com o fim de perpetrar um golpe de Estado. E, sabemos quantas vezes, ao longo destes anos, tentaram matar Fidel Castro, obrigando-o a sequer ter uma residência fixa. Nos anos 90, a Lei Torricelli reforça o bloqueio econômico e, na seção 1705 diz que “Os Estados Unidos proporcionara assistência governamental adequada para apoiar a indivíduos e organizações não governamentais que promovam uma mudança democrática não violenta em Cuba”. Esta lei vai ser reforçada na administração de Clinton, pela lei Helms-Burton quando diz : “O presidente dos EUA esta autorizado a proporcionar assistência e oferecer todo tipo de apoio a indivíduos e organizações não governamentais independentes com vistas a construir uma democracia em Cuba”. E, o governo Bush não podia ficar atrás e, em 2004 aprovou um financiamento de 36 milhões de dólares para financiar a oposição a Cuba, em 2005 mais 14,4 milhões de dólares, em 2006 mais 31 milhões de dólares alem do financiamento de 24 milhões de dólares para a Radio e TV Marti, transmitida dos EUA para Cuba neste caso, infligindo a legislação internacional que proíbe este tipo de transmissão. Estes valores são fantásticos -105,4 milhoes em apenas 3 anos.

Outra dificuldade e entender o funcionamento da economia cubana. Logo apos a revolução faz-se uma ampla reforma agrária, instalando uma via muito particular no campo, onde de um lado manteve alguns proprietários privados, como o de tabaco, e de outro, constituindo cooperativas voluntárias ao lado das propriedades estatais. O setor serviços foi todo ele estatizado. Apos os anos 90, com as dificuldades dada pela intensificação do bloqueio e com o fim da União Soviética, foi feita uma grande abertura para entrada do capital internacional no setor turismo, sem desconhecer o risco que isto poderia acarretar. O setor de transformação, inicialmente todo ele estatizado, hoje tem tido parcerias.

Com o nosso olhar de classe media, que podemos fazer uma viagem internacional, nos chocava alguns problemas com a vida cotidiana como habitações pobres, transporte publico precário, limitações econômicas para se ter ate papel higiênico (isto deixava a todos pensando, pobrezinho dos cubanos). Isso é verdadeiro, alem destes problemas da vida cotidiana, vários outros nos foram apresentados pelo secretario do partido comunista, que fez uma palestra para os brigadistas: o aumento da prostituição, dos pequenos delitos, da corrupção e da desigualdade social. Quando se investiu no turismo e posteriormente, com a criação da moeda turística (o peso conversível), cresce de um lado a entrada de divisas e de outro, possibilitou um rendimento, para os trabalhadores destes setores, acima do restante da população, ocasionando um aumento da desigualdade social. Afirma ele que vivem numa quádrupla ilha: geográfica; única nação socialista do Ocidente; órfã de sua parceria com a União Soviética e bloqueada há mais de 40 anos pelo governo dos EUA. E buscando respostas coletivas para estes problemas, desencadearam um processo interno de críticas e sugestões à Revolução, através das organizações de massa e dos setores profissionais. São mais de 1 milhão de sugestões que pretendem trabalhar mas mantendo os princípios do socialismo: solidariedade e não a competitividade, o coletivo e não o individualismo.

Mas, para nos brasileiros de classe media (somos quantos? Depende da estatística mas varia de 5 a 10%), que podemos fazer uma viagem internacional e que não conhecemos a realidade dos 90% do povo brasileiro que não tem como pagar um plano de saúde, que tem pouca alimentação, que fica com os restos do desperdício dos 10%, com uma educação precária, e difícil entender a lógica econômica de uma sociedade voltada para os 100% da população. E ficamos horrorizados por eles não terem papel higiênico. Mas não nos deixam horrorizados que tenham bibliotecas e livrarias em toda escola e em toda cidadezinha. Ou que tenham acesso à saúde e educação da melhor qualidade, habitação com saneamento e aparelhos eletrodomésticos novos para economizar energia. Ou, que não tenhamos encontrado erosão por todos os lugares que andamos.

E a busca do conhecimento? E as escolas? Como e possível ver os círculos infantis, crianças de 1 a 4 anos, assentadas ouvindo historias, sem a professora estar gritando, mandando ficarem quietas? E ver os portões destas escolas abertas e as crianças não fugirem? Como e possível não ter o stress que, temos em nossas escolas? E, conversando com as crianças do pré-escolar e do escolar (5 a 11 anos), ficávamos surpresas com as perguntas cheias de inteligência e informação sobre nosso pais, que faziam aquelas pequenas crianças? E, como nos permitiam entrar nas salas de aulas, fotografar, bisbilhotar as bibliotecas onde encontrávamos livros de Marx a Lênin, de Jorge Amado, Machado de Assis, a Shakespeare. Imagine isto aqui no Brasil? Ficávamos encantadas. Eu, como professora da UFMG, tida como uma das melhores do Brasil, me encantava com aquelas bibliotecas. E as livrarias? Na pequenina Caimito onde ficava o acampamento, literalmente invadimos uma livraria, comprando tudo quanto e tipo de livro, pela sua qualidade e pelo preço (comprei um livro do Boaventura de Souza Santos por 8 pesos cubanos – que equivale mais ou menos a R$ 0,50 -, outro do Che Guevara sobre Economia Política de 397 págs. por 22 pesos cubanos, portanto em torno de R$ 1,40 (e dai para frente).

E o investimento na potencialidade do ser humano não pára ai. O desenvolvimento das artes – dança, pintura, musica, poesia, desportos – e encontrado em cada escola, em cada esquina, em cada cidade.

E claro que também tivemos as frustrações no contato com algumas pessoas, especialmente em Havana onde impera o espírito da cidade turística, onde se busca sempre ganhar alguma coisa, passar a perna, apenas diferenciando pela intensidade dos problemas, com as nossas cidades turísticas como Rio de Janeiro. Só que e mais ingênuo, meio estilo anos 60. De todo jeito, frustrante. Também nos entristeceu encontrar tantos cubanos sonhando em sair da ilha, acreditando por exemplo, que o Brasil é um paraíso, visão que tem através das telenovelas (que todos assistem).

E assim, uma sociedade muito diferente que nos estimula e atrae. Alias, nada melhor para expressar isto do que a crônica do Clovis Rossi (O “pop star” se aposenta) do dia 20 de fevereiro na Folha de São Paulo contando o episodio de um encontro do GATT, que contava com a presença dos chefes de estados, diferentes autoridades mundiais e jornalistas de todo o mundo. Onde o burburinho na sala do encontro e na sala dos jornalistas era enorme, com a atenção dispersa. Quando se anunciou Fidel Castro houve um grande burburinho, com todos procurando o melhor lugar para assisti-lo e “ao terminar, uma chuva de aplausos, inclusive de seus pares, 101% dos quais não tinham nem nunca tiveram nenhum parentesco e/ou simpatia com o comunismo. Difícil entender o que aconteceu ali.”

Para terminar, quero colocar uma idéia desenvolvida na mesa redonda integrada por vários cientistas cubanos e sintetizada pelo jornalista Jesus Rodrigues Diaz, falando sobre o potencial no desenvolvimento do conhecimento quando ele se da de forma coletiva. E que no capitalismo existe uma grande contradição entre o caráter social da produção e o caráter privado da apropriação. Dai, a reação do capitalismo ao papel crescente do conhecimento na economia e a busca da privatização do conhecimento, principalmente através da propriedade intelectual, das barreiras regulatorias e do roubo dos cérebros.

“Temos que insistir também que, quando falamos do Potencial Humano criado pela revolução, não nos referimos exclusivamente à quantidade de conhecimentos técnicos incorporados em nossa população. Mais importante ainda é a semeadura de valores éticos, de atitudes ante a vida. Na sociedade do conhecimento faz falta um cidadão com vocação de aprender e de criar, e de levar seus conhecimentos aos demais seres humanos. Os conhecimentos técnicos nos podem dizer como se trabalha, porem são os valores os que nos fazem compreender porque se trabalha e deles tiramos as motivações e as energias para seguir adiante.

Que se passa agora se os conhecimentos se voltem ao fator mais importante da produção, inclusive os bens de capital? Não e difícil de prever. A resposta do capitalismo e a intenção de converter também o conhecimento em Propriedade Privada. Porem, a boa noticia e que isto não vai funcionar. O conhecimento não e igual ao Capital. Esta nas pessoas e não se pode facilmente privatizar. O conhecimento requer circulação e intercambio amplo. As leis da propriedade intelectual inibem este intercambio. O conhecimento e validado pela sua aplicação social, não pela sua venda. O uso amplo dos produtos do conhecimento e o que os potencializa”, termina o jornalista. Esta e a grande limitação do raciocínio capitalista em entender a potencialidade da criação coletiva. Ignoram que a criação humana coletiva tem muito mais possibilidades do que as leituras positivistas do conhecimento.

O maior feito desta pequenina ilha, com um povo cheio de dignidade e coragem, terá sido o de mostrar ao mundo que e possível construir uma sociedade baseada no ser humano e não na mercadoria e na acumulação de capital. E isto ameaça o mundo capitalista, e é rejeitada pela imprensa burguesa e pelos setores médios que querem impor as condições de suas vidas para a totalidade do mundo. Mas, Cuba não esta só. Existe hoje uma rede internacional de solidariedade ocasionada pelos médicos e professores cubanos em mais de 100 países, pela Operação Milagros, pelas brigadas de solidariedade e por todos aqueles que acreditam que Um Outro Mundo é Possível e que lutam pela sua construção.


terça-feira, 1 de abril de 2008

Sem surpresas em Cuba / Quinze dias socialistas

Estou publicando aqui o primeiro texto que a companheira Francis Maia daqui de Porto Alegre produziu sobre sua exeriência em Cuba.

Enquanto ela ainda não vence a preguiça de fazer uma conta no google, sigo publicando o seu material!


Sem surpresas em Cuba

Por Francis Maia

Cheguei em Havana na segunda quinzena de janeiro, justamente um dia depois da eleição que confirmou Fidel Castro à frente do país. Imediatamente estranhei o cenário incomum de um período pós-eleitoral, sem propaganda e sem disputa. Os espaços públicos pertencem ao ideário da Revolução e é assim que os cubanos são orientados no seu cotidiano. Tanto o Granma, jornal oficial, quanto a televisão estatal traziam em destaque os resultados da eleição, especialmente o alto índice de participação dos cubanos.

Viciada em informação, uma vez que o jornalista vive da conexão de fatos e episódios, fiquei um pouco sem rumo nos primeiros dias, sem saber o que acontecia na ilha ou fora dela. Mas estava numa viagem de estudos e procurei me orientar como os cubanos, obedecendo os ritos da disciplina local e confiando cegamente na ordem pública.

O Instituto Cubano de Amizade entre os Povos (ICAP) foi o anfitrião do grupo de 300 latino-americanos que durante duas semanas ficaram alojados no acampamento Júlio José Mella (primeiro presidente do Partido Comunista Cubano, em 1929), localizado em Caimito, zona rural da província de Havana. Lá, realizamos trabalho voluntário na lavoura, entramos em contato com a população e conhecemos as principais cidades da ilha.

A população cubana está envelhecida e seu crescimento vegetativo é negativo. Mas aqueles que vivenciaram a violência da ditadura de Fulgêncio Batista não temem em afirmar que pegarão em armas para defender a Revolução. Eles dizem carinhosamente que Fidel trabalhou muito e sem descanso por todos e que é justo que agora ele possa descansar. Ouvi isso de muitas pessoas, tanto velhas quanto jovens. "Estamos preparados para o que vai acontecer", disse um senhor dos seus 70 anos, vigia do local onde estávamos acampados. Nem alegre nem triste, apenas consciente do qu ê a realidade política pode gerar sem a presença do grande líder da revolução de 1959. Mais tarde, um funcionário do Partido Comunista Cubano confirmou essas informações: este é o momento mais difícil da Revolução, os cubanos terão que defender sua ideologia com Fidel ou sem Fidel, existem problemas graves em Cuba como prostituição, drogas, pequenos delitos, corrupção. Daqui para a frente, tudo vai depender dos próprios cubanos.

Tive a impressão, em determinado momento, que Fidel nem existia mais, tal o pragmatismo com que a sua ausência estava sendo tratada. Me pareceu que se tratava de uma ausência estrategicamente arquitetada. É o que está se confirmando agora, com a renúncia do Comandante. Creio que chefe ele sempre vai ser de todos os cubanos
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XV Brigada Sulamericana de Solidariedade com Cuba

Quinze dias socialistas

Os 300 brigadistas sulamericanos que durante 15 dias permaneceram no acampamento José Julio Mella, em Caimito, distante 30 km da capital, Havana, tiveram a oportunidade de conhecer o cotidiano do povo cubano dentro dos princípios da Revolucão que há 49 anos transformou a maior ilha caribenha no primeiro exemplo socialista do continente americano. Para o grupo de uruguaios, argentinos, chilenos, brasileiros, uma boliviana, duas suiças e cinco crianças, os contrastes de Cuba formam um mosaico histórico, político, social e cultural que se reflete no povo cubano. Amáveis e delicados, os cubanos expressam com orgulho a sua identidade, moldada na histórica luta guerrilheira comandada por Fidel Castro desde a Sierra Maestra, em 1959, consolidada na vitória da Baia dos Porcos, dois anos depois, que consagrou o caráter socialista da revolucão, tudo isso fortemente concretado pelo mais expressivo de todos os revolucionários cubanos, José Marti, o herói nacional que morreu lutando pela Cuba que Fidel, Che, Cienfuegos e os campesinos conseguiram reconquistar.

O período de férias e o verão na América do Sul, origem da XV Brigada, constrangeu um pouco o grupo que, ao chegar no Acampamento José Julio Mella, entrou em contato com a verdadeira face da vida cubana. Mella, primeiro presidente do Partido Comunista Cubano, em 1929, dá nome ao local onde anualmente centenas de brigadistas de todo o mundo aportam para entrar em contato com a Revolucão Cubana. Acostumados com as mensagens consumistas do capitalismo, os brigadistas foram surpreendidos - logo ao sair do aeroporto José Martí, em Havana - pelos imensos cartazes ao longo das rodovias exortando a Revolução Cubana, seus heróis e seus objetivos. Fidel Castro aparece com a imagem dos tempos de guerrilheiro, portando imensos óculos de aro negro, mantendo um diálogo permanente com os cubanos a respeito dos objetivos da luta vitoriosa, os valores, as idéias, o significado da Revolução. O ideário está esparramado em todas as áreas livres da ilha. No acampamento, logo na entrada, além do busto em homenagem a Mella, mensagens socialistas saúdam os visitantes e mostram com efeito vibrante o sentido da viagem ao mundo socialista. Não se trata de turismo, mas de profundo mergulho no sonho concretizado por Fidel e Che Guevara, maior referência histórica e emocional da maioria dos que se enfileiraram para participar desta Brigada.

Estranho para alguns, difícil de entender para outros, incompreensível para muitos, o local e uma espécie de quartel guerrilheiro, onde os hábitos e costumes dos revolucionários são repetidos diariamente, resguardadas as diferenças e o tempo que separa todos do grande éxito com as armas comandadas pelos "barbudos cubanos" no final da década de 50. Administrado pelo ICAP e orientado por um grupo de servidores especialmente preparados para atender os brigadistas, o acampamento segue regras rígidas para o cumprimento da programação, mas oferece uma rotina noturna tipicamente cubana, alegre e musical. As lindas noites de lua cheia da primeira semana da Brigada formaram o cenário perfeito para dançar rumba, beber rum e conhecer os companheiros latino-americanos. Esta época do ano é inverno em Cuba, mas chove pouco e o sol predominou nas duas semanas de atividades.

Os alojamentos, separados em dez prédios, abrigam oito pessoas em quatro beliches, pequenos armários e uma porta sem chave compõem o cenário do acampamento. O banheiro é coletivo em cada um dos prédios, a água é fria e disponível algumas horas durante o dia. O refeitório oferece café da manhã, almoço e jantar, numa dieta básica e muito simples, que garante alimentação também para os vegetarianos. Leite, iogurte, ovo, pão com manteiga, ricota ou presunto desmanchado, acompanhado de goiaba, laranja ou toronja, uma fruta cítrica mais forte que a laranja. No almoço e jantar, invariavelmente, congri, que vem a ser arroz e feijão cozidos juntos, carne de porco, mandioca e saladas de alface e tomate, resultado da horta plantada no local. Raramente se come carne bovina. Cuba dispõe apenas de vaca para a produção leiteira. Somente são abatidas as vacas velhas para consumo de turistas. Em Cuba, homicídio dá cadeia de pelo menos 15 anos, mas matar uma vaca leva o criminoso para mais de 20 anos atrás das grades. Na saída do refeitório, um solitário jacaré cercado de pequenas tartarugas dentro de uma minúscula piscina encerra com exotismo as refeições dos brigadistas.

Trabalho voluntário

A intensa programação da brigada alterna diariamente, durante a primeira semana, trabalho voluntário nas imediações do acampamento. Essencialmente voltada para a agricultura de subsistência, a ilha enfrenta forte limitações em função do bloqueio americano, que impede a maioria dos países de exportar produtos para os cubanos. Desde a década de 90, com o fim da União Soviética, se aprofundou a crise econômica cubana. Assim, produtos básicos da alimentação faltam na mesa dos cubanos, como leite em pó, leite condensado, farinha de trigo, queijos diversos, além de outras variedades alimentares que costumeiramente são disponíveis em outros países. Mas isso não intimida os cubanos, que exibem físico invejável e aspecto saudável. Exemplo mundial de medicina, a saúde é assunto de estado e os cuidados se refletem na aparência dos cubanos, que exibem constituição física exuberante nas 16 províncias que formam a ilha. Crianças e adultos saudáveis, sem o perfil do período pré-revolucionário, quando Cuba registrava índices elevados de mortalidade infantil e desnutrição, e também distante dos excessos do capitalismo, que quando não mata de desnutrição leva crianças e adultos para a obesidade. Em Guayabal, onde está situado o acampamento, os brigadistas cumpriram turnos de três horas diárias juntando pedras no meio da plantação, retirando ervas daninhas junto a plantação de feijão ou limpando a poda do laranjal, principal produto de exportação de Cuba. Para todos os lados, nesta província, se esparramam as plantações de laranja, que no inverno já foi realizada a colheita e agora preparam as laranjeiras para a próxima colheita. No intervalo do trabalho, laranja e goiaba para todos, único bem disponível que serve como lanche. Açúcar, café, fumo e cítricos formam a principal produção agrícola da ilha.

Os locais do trabalho voluntário são coordenados por dois responsáveis de cooperativas daquela plantação. São eles que indicam o trabalho a ser feito, corrigem as imperfeições e explicam detalhadamente a atividade. Nos intervalos, o responsável pelas equipes, sempre divididas por países, dá explicações históricas e políticas sobre o processo revolucionário cubano. Os 97 brasileiros foram acompanhados pelo professor de filosofia Leopoldo Valle, típico homem da Revolução, sério e profundo nas análises sobre o processo socialista cubano e inflexível na exposição das diferenças com o capitalismo.

Ao final de cinco dias de trabalho, o resultado foi divulgado pelo chefe de produção das cooperativas. O trabalho de 275 pessoas (nem todos os brigadistas cumpriram o trabalho voluntário) gerou em torno de 800 pesos cubanos. Além do auto-consumo, o cultivo agrícola vai para hospitais e para o estado. Em Caimito, tipicamente rural, existem diversas áreas de produção leiteira, agrupadas em grandes potreiros, todos pintados de branco, destaque apenas para o colorido das letras que refletem o espirito revolucionário. Os brigadistas, todas as manhãs, foram acordados pelo canto de um galo, o despertador dos campesinos. A gravação assustou a maioria dos jovens, muito urbanos e pouco relacionados com a vida rural.

Deslocamento precário mas garantido

O deslocamento é feito em ônibus que já pertenceram a italianos, franceses e chineses. São doações dos sindicatos de outros países, única forma encontrada por Fidel Castro, através da solidariedade, para garantir o transporte em Cuba. O sistema é precário, envelhecido e lento. Além da extrema dificuldade com o combustível, a frota cubana de transporte expõe de forma agressiva o resultado do bloqueio americano. Incansáveis, os cubanos não se curvam e fazem das limitações um reforço solidário. Carona em Cuba e comum, todos os carros páram ao longo da estrada para oferecer um espaço àquele que está na estrada e mesmo nas ruas e avenidas de Havana, a maior cidade do país, onde se concentram 2 milhões e 300 mil pessoas. Com baixíssimo nível de violência e criminalidade, o recurso é bem vindo diante da dificuldade para transportar tanta gente. Isso faz com que o tempo, em Cuba, tenha um ritmo diferente e muito lento. Desfilam coloridos e velhos cadilacs de todos os modelos e épocas, caminhões que remetem a II Guerra Mundial, motocicletas com espaço para carona, carros quebrados no meio da estrada ficam ali, abertos, esperando reparo. O transporte de passageiros na periferia de Havana é feito pelo chamado transbus, espécie de dois vagões presos por um cabo, que dá acesso para entrada pela parte traseira e leva todos sentados e em geral não dispõe de vidros. Na cidade, os camelos , mais modernos, são iguais aos que circulam em Porto Alegre e outras cidades brasileiras. As bicicletas se multiplicam por todos os lados, também velhas e muito usadas, mas úteis para qualquer tipo de deslocamento. É comum uma família cubana, pai, mãe e filho, todos na mesma bicicleta, sorridentes em direção ao seu destino.

No interior do país, o cavalo ainda é a melhor maneira de transporte. Desfilam pelas ruas pequenas carroças, com bancos dos dois lados e cobertas em cima, fazendo as vezes de um ônibus. Antigas carroças e pequenas charretes circulam com desenvoltura no trânsito das cidades cubanas, congestionado pelas bicicletas, cavalos e ônibus de turismo, tudo em ordem e segurança.

Havana é um mundo à parte. Lá, os táxis se apresentam desde o inusitado cocotaxi, que é conduzido por um motociclista e dispõe de dois lugares atrás, em formato de coco, pintado de verde e amarelo, permitindo a agradável sensação do vento caribenho batendo no rosto. É o delírio dos turistas. Carros comuns, administrados pelo estado, fazem o transporte de passageiros, assim como bicicletas com dois lugares, cavalos puxando pequenas charretes, antigos modelos de carruagens puxadas por cavalo, tudo é possível para suprir a deficiência imposta pelos americanos, que dá um tom romântico e exótico para a paisagem cubana, em qualquer parte do país. São os automóveis e o sistema de transporte que deixam Cuba três ou quatro décadas atrás no tempo. Em compensação, os cubanos estão à frente do mundo na postura digna, honrada e altiva que oferecem aos curiosos e incrédulos turistas que, atualmente, garantem a maior fonte de renda para o país.

Etica martiana

Para garantir a compreensão dos brigadistas, o trabalho voluntário foi alternado com palestras e discussões políticas sobre a realidade cubana. Come ç ou pelo herói nacional, José Martì, presenca constante do calendário histórico, político e educacional cubano. A conferência sobre a ética martiana ofereceu a oportunidade de entender a relação dos cubanos com este homem, que desde o final do século XIX lutou pela independência de Cuba. Nasceu ha 155 anos e disso os cubanos não esquecem. Dia 28 de janeiro, data natalícia, todas as ruas de Cuba são invadidas pelas tochas acessas, à noite, para lembrar que Marti lutou para iluminar o caminho de todos com suas idéias libertárias. Em Havana, meio milhão de pessoas quebraram a noite com as suas tochas, cantando hinos e lembrando as delicadas poesias do herói nacional. Um caminhão passa, ao final, jogando água para apagar as tochas. E, depois, no melhor estilo cubano, tudo termina em salsa e muita rumba pelas praças.

José Martí foi acima de tudo um educador. Vinte e sete volumes compõem a sua obra completa. Escreveu o Ouro Negro, para definir o valor e as qualidades intrínsecas do ser humano. Tinha o amor como sua maior inspiração e a Pátria, segundo ele, definia todo o sentido do ser humano. Justiça, dignidade, igualdade e soberania era o que perseguia o cubano que foi cônsul em Nova Iorque, durante um longo período de ex í lio em solo americano. Abriu mão dos cargos que ocupava e retornou para Cuba disposto a lutar e morrer pela Pátria, que desde a ocupação espanhola até a revolução de 1959 nunca deixou de ser explorada pelos estrangeiros. Marti escreveu um livro para crianças, A Idade de Ouro, que resume o sentido da educação que todos os cubanos recebem atualmente, modelo adotado pela revolução. Fidel, consolidado o triunfo da revolução, imediatamente determinou uma campanha de alfabetização em toda a ilha. Dos sete milhões de cubanos à época, pelo menos dois milhões eram analfabetos. Marti pregava a unidade latino-americana, "do Rio Bravo até a Patagonia, uma só América", queria. Vem de Marti a inspiração para a formação do Partido Revolucionário Cubano, célula primeira da revolução vitoriosa. "As forças estão nas idéias e não nas pessoas" disse ele, forjando um dos fortes eixos revolucionários entre os cubanos. Os ensinamentos de Jose Marti estão disponíveis para os cubanos em dois dos quatro canais de televisão do estado. Um dos programas, Cercania, é direcionado para crianças, oferecendo todo o ideário martiano e sua ética, destacando a importância do trabalho na formação das pessoas. Dos diversos recursos utilizados, o desenho animado é um deles, gerando simples imagens sobre a relação de cordialidade e respeito entre as pessoas. Algo inimaginável no Brasil, onde as crianças têm nos cartoons americanos a sua maior fonte de inspiração diária à frente da televisão.

Uma das primeiras iniciativas da Revolução, a alfabetização foi disseminada em toda a ilha buscando derrubar o analfabetismo que mantinha o povo preso ao modelo colonialista e escravagista. Escola é prioridade máxima em Cuba, onde as crianças entram às 7h30 e ficam até ás 17h, com alimentação, higiene e noções de trabalho coletivo. Todos usam o mesmo modelo de uniforme em toda a ilha, o que reduz gastos familiares em casos de deslocamento. O mesmo acontece com as casas, que são feitas com material doado pelo estado e, em caso de mudança, o novo local é solicitado ao Ministério do Bem Estar Social e, quando disponível, o imóvel é encaminhado ao solicitante. Assim, nenhum criança sem escola e nenhum cubano sem casa.

Cinco heróis vivos

Cuba reverencia cada um dos seus heróis, vivos ou mortos. Em todos os lugares estão expostos os que caíram em combate pela Pátria. E cada um dos cubanos conhece profundamente os seus heróis, explica os seus feitos e as datas e locais dos acontecimentos. Atualmente, monopoliza a atenção dos cubanos a prisão em solo americano de cinco patriotas, que lá estavam para advertir autoridades daquele país a respeito de possíveis ataques terroristas contra a ilha. Surpreendidos pelo forte esquema que protege os anti-castristas em Miami, eles foram presos e há dez anos são subjugados em julgamentos questionáveis e pouco confiáveis, seus familiares são impedidos de visitá-los e estão separados em pontos distantes dos EUA, já condenados a penas de prisão perpétua e mais de 20 anos de cadeia. O governo cubano trava uma luta incansável pela libertação de Fernando, Antonio, Rene, Jamón e Gerardo. A partir de outubro de 1976, quando um avião cubano foi atingido por uma bomba e nele morreram 76 pessoas, diversos atos terroristas se sucederam em toda a ilha, atingindo especialmente os hotéis. Nos anos 90, com a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética, principal apoio estrangeiro de Fidel, a ilha passou a investir no turismo. Atos terroristas se tornaram uma constante, liderados pela máfia cubana radicada em Miami. Os explosivos chegaram a entrar em Cuba dentro de televisores, ação capitaneada pelas lanchas rápidas, pilotadas por mercenários que transportaram perigosos ingredientes explosivos, como o C4. os cães cubanos, no aeroporto, foram rigorosamente treinados para identificar esses explosivos. No Aeroporto José Marti, em Habana, chama a atenção a presença dos cães farejadores subindo pela bagagem, acompanhados de policiais. Num primeiro momento, parece a ação das polícias internacionais em busca de traficantes de drogas. Mas o que os cubanos procuram são explosivos. A embaixada suíça em Havana abriga o escritório que trata dos interesses americanos no ilha. O controle aéreo cubano faz varredura constante para identificar os Irmãos do Resgate, grupo de aviadores americanos que violam o espaço aéreo, ocupando a frequência aérea para provocar acidentes. O resgate de balseiros que tentavam sair da ilha também serviu para que os americanos avançassem 4 ou 5 milhas em águas cubanas, com a intenção de provocar o pânico. Em 1995, essas ações foram intensificadas. Em janeiro de 1995, foram realizados vôos baixos e lentos sobre Havana, aos sábados. Eram aviões de incursão ao norte da cidade. Cartas de navegação encontradas registram que os aviões americanos deveriam manter comunicação com Havana 10 minutos antes de entrar no espaço aéreo. Esse clima de terrorismo levou os cinco cubanos aos Estados Unidos, onde foram acusados de contra-espionagem e terrorismo. Embora sem provas, foram condenados pelos tribunais americanos, violando a lei que impede a realização de um julgamento sem garantias de imparcialidade. O primeiro julgamento foi em Miami, onde se concentra a comunidade cubana anti-castrista. Mobilização intensa no interior dos EUA e o pagamento de US$ 50 mil garantiu a publicação, ha quatro anos, no New York Times, de artigo a respeito da situação legal dos cubanos nas prisões americanas e pedindo sua imediata libertação. Manifestações foram realizadas na frente da Casa Branca, em Washington. Para os brigadistas, além da projeção de um filme que conta em detalhes a situação dos cubanos, familiares de cada um dos cinco estiveram no auditório do acampamento, conversando e expondo o drama que vivem ha dez anos. Mesmo separados e impossibilitados de receber seus familiares, em solo americano eles preservam os ensinamentos de José Martì e dão lições de dignidade e soberania. Escrevem cartas para os companheiros de prisão, três deles, que estiveram em brigadas na África, organizam os africanos, enquanto outros pintam quadros para aliviar o isolamento. Cinco advogados americanos lutam nos tribunais daquele pas para libertaá-los. Aos brigadistas latino-americanos, foi pedido que divulguem em seus países a situação dos cinco cubanos, quebrando o silencio imposto pela imprensa e buscando apoio de organismos internacionais. Eles ensinaram que é preciso quebrar o discurso norte-americano, que combate o terrorismo mas dá sustentação aos atos ilegais que ameaçam os cubanos.

Novelas brasileiras

Os prédios onde estão os alojamentos possuem um aparelho de televisão, sempre ligado. É possível acompanhar o noticiário e a programação cultural, educacional e esportiva. O noticiário é concentrado em Cuba, Venezuela, Bolívia e alguns países do Caribe, América Central e África. Comentaristas especializados abordam os temas, além de promover discussões com especialistas. Programas de caráter histórico predominam na programação. Mas o noticiário é restrito, não oferecendo o volume de informações a que os brasileiros estão acostumados. Da mesma forma o Granma e a Juventude Rebelde, órgãos oficiais do governo e do partido, têm pequenos espaços e trazem informações concentradas em temas políticos, com abordagens temáticas. Fidel Castro mantém seus artigos nas publicações, tendo destaque durante a brigada texto do Comandante sobre o presidente Lula. O Granma circula com apenas oito páginas e não é diário. As rádios cubanas têm mais informações, mas a programação é predominantemente musical. As novelas brasileiras fascinam os cubanos. Mulheres apaixonadas é a novela em exibição, mas em tempo limitado, são três vezes por semana, nas primeiras horas da manha. Todos acompanham e comentam as novelas brasileiras e são encantados com os artistas nacionais.

Guerrilheiro Heróico

Todos querem ser Che Guevara, mas não é fácil e os jovens brasileiros pouco sabem a respeito da disciplina e do mundo guevariano. São guiados pelo mito, apaixonados pelo heroísmo do argentino que se aventurou pela América Latina e foi parar no México, onde conheceu Fidel Castro e entrou definitivamente na história cubana. A dura disciplina guerrilheira era a mais intensa das leis para o revolucionário, que além de comandar com Camilo Cienfuegos a Coluna 4 e 8 da Sierra Maestra em direção a Santa Clara, no centro da ilha, abrindo caminho para o triunfo final de Fidel, adotou com retidão os preceitos guerrilheiros que exigiam uma conduta irreparável e uma disciplina rígida e incansável. Durante os 15 dias da Brigada, o ICAP montou um esquete fixo para acordar o pessoal. Primeiro o galo, demarcando a área rural, depois as músicas cubanas (Guantanamera à frente) e, por último, uma gravação da leitura da carta que Che Guevara deixou para Fidel Castro, quando saiu de Cuba para lutar pelo internacionalismo da revolução. A gravação é da leitura da carta por Fidel na praça da Revolução, em 1965, quando revelou aos cubanos que o Che não estava mais no país. O tom grave da voz de Fidel na carta histórica do Che, último adeus ao povo que o acolheu como um filho e herói, revela a intensidade da entrega do Guerilheiro Heróico à causa revolucionária. Antes de lavar o rosto, os brigadistas tinham primeiro que enxugar as lágrimas. Mais tarde, em Santa Clara, aos pés da gigantesca estátua de Che Guevara erguida para abrigá-lo depois que a Bolívia devolveu os restos mortais do revolucionário, os brigadistas puderam se ajoelhar e oferecer flores ao maior de todo os mitos jovens do mundo.

Saudáveis jovens cubanos

A visita ao museu na Praia Girón, na Baía dos Porcos, no centro sul de Cuba, distante 180 km de Havana, leva os brigadistas ao momento de consolidação socialista da revolução cubana, quando a resistência derrotou os 1.500 anticastristas patrocinados pelos americanos que desembarcaram na madrugada do dia 17 de abril de 1961 na Ciénaga de Zapata, uma árida região marcada pela miséria e analfabetismo. Em 72 horas, o Exército Rebelde imprimiu a primeira grande derrota ao imperialismo norte-americano na América Latina. Os 26 jovens combatentes mortos são lembrados com fotografia, identificação e objetos pessoais encontrados com eles. São os heróis de Girón. Para lembrar a data, o dia 16 de abril em Cuba é o Dia do Socialismo. Distante uns 40 km dali, Pálpite é uma pequena localidade onde vivem os filhos de antigos moradores da pobre região. Hoje, eles formam grupos artísticos e exibem com orgulho um dos mais nobres resultados da revolução cubana, a educação. Através de um instituto cultural especialmente montado para essa região e direcionado para os jovens, eles recebem formação em pintura, canto, dança, escultura, fonte de expressão da arte e cultura cubanos. Para recepcionar os irmãos latino-americanos, os jovens de Pálpite invadiram a tarde domingueira com suas vozes divinas, impondo o profissionalismo de sua formação clássica e evidenciando com segurança o conhecimento adquirido para apresentar um espetáculo digno dos melhores palcos do mundo. Ali, no sol caribenho, cantaram e dançaram as poesias de José Martí, o orgulho da independência cubana, a força do nacionalismo, a certeza do braço firme de Fidel, transmutando em menos de uma hora todo o sentimento de amor e irmandade com os latino-americanos. Os saudáveis jovens cubanos, lindos e sorridentes, ecoam com sua voz perfeita nos corações dos brigadistas brasileiros.

A Brigada se encerrou dia 4, no Aeroporto José Martí, em Havana. Leopoldo Valle nos despediu de Cuba com sua postura séria e inflexível, nos deixando retornar diferentes e inferiores, com a certeza de que as limitações impostas pelo capitalismo reforçaram o socialismo cubano, que oferece dignidade e soberania às crianças e jovens, que vivem num mundo melhor e mais humano.

quarta-feira, 19 de março de 2008

300 perguntas e 300 respostas sobre Cuba

Há pouco tempo o companheiro Paulo Cesar postou aqui um arquivão com este título, acabei deletando a postagem, porque o visual do Blog não ficou legal, além disso, as tabelas com estatísticas ficaram descaracterizadas na postagem.

Como ainda não encontramos uma solução adequada para colocar tudo aqui no blog de uma forma interativamente mais amigável, vou deixar o link do arquivo completo para quem quiser pegar:

http://www.embaixadacuba.org.br/300_perg_resp.zip


Eis algumas das questões respondidas:

160. Como é eleito o presidente do estado cubano?

O Presidente do Conselho de Estado que é o órgão que ostenta a suprema representação do Estado é eleito através do voto direto e secreto dos deputados da Assembléia Nacional. Isto implica que o Chefe do governo cubano como prática tem que submeter a dois processos eleitorais. Primeiro tem de ser eleito como deputado pela população através do voto livre, direto e secreto e depois pelos deputados através do mesmo mecanismo.

161. O que é o Conselho de Estado?

O Conselho de Estado é o órgão do Parlamento Cubano que representa a Assembléia Nacional do Poder Popular entre um e outro período das sessões, executa os acordos desta e cumpre as demais funções que a Constituição lhe atribua. Tem caráter colegiado para fins nacionais e internacionais e detém a suprema representação do Estado Cubano.

162. Quais são as atribuições do Conselho de Estado?

Várias são as atribuições do Conselho de Estado, entre elas se encontram:

¨ Determinar a celebração das sessões extraordinárias da Assembléia.

¨ Determinar a data das eleições para renovação periódica do Parlamento.

¨ Fazer valer a proposta de seu Presidente aos membros do Conselho de Ministros entre um e outro período de sessão no Parlamento.

¨ Designar e mudar, a pedido de seu Presidente, os representantes diplomáticos de Cuba ante outros Estados.

163. Quantos membros têm o Conselho de Estado?

O Conselho de Estado está formado por 31 pessoas, incluindo seu Presidente e todos têm de ser deputados.